Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi e voou
E hoje é já outro dia.
(Fernando Pessoa)
Quando voltei de Portugal não senti saudades instantâneas. Demorei, na verdade. Em parte parecia que tudo voltaria ao “normal”, que um dia acordaria em minha cama em Coimbra, desceria as escadas e veria a casa cheia de cabeças loiras, morenas, ruivas, para trocar ideias sobre situações em Portugal, Brasil, Espanha, República Tcheca, sobre a universidade ou sobre a vida. Demorei um tempo até sentir saudades de verdade, até perceber que eu não saberia quando voltaria pra Portugal novamente. Em Coimbra, tudo parecia muito mais fácil. Pegar um avião para outro país parecia a coisa mais simples do mundo – Ryanair, sinto sua falta!
No mês passado estive viajando, longe de internet e qualquer tipo de comunicação que não envolvesse olho no olho. Até que lembrei, num desses dias, que fazia exatamente um ano desde que estava sozinha no aeroporto do Porto, com muitos quilos de malas e mochilão, para dar meu até logo ao meu segundo país do coração. Fiquei com vontade de escrever sobre a experiência pós-intercâmbio, porque afinal, um ano é um tempo bem marcante. Ao mesmo tempo, fazem mais de dois anos que fui para Coimbra, então muitas coisas que aconteceram já estão distantes.
Sobre as saudades: sinto saudades do cheiro da minha casa na Praça do Comércio. Juro, era um cheiro que só existia lá. Isso estava muito relacionado a minha vida lusitana, e sempre que sentia aquele aroma sabia que só voltaria a o sentir quando voltasse para aquela mesma casa. Sinto saudades das escadas de pedra que pareciam infinitas e que tornavam chegar à faculdade um grande desafio. Sinto saudades do Mondego, das cores espetaculares que ele compartilhava com o céu. Nada é tão bonito quanto o Mondego nos fins de tarde. Saudades do jeito lusitano de falar e da calma para lidar com a vida. De acordar com o som do saxofone na Portagem. Da Feira das Velharias. De ir ao Pingo Doce. Da Sagres e da Super Bock. De esperar ansiosamente pelos festivais acadêmicos da cidade, vulgo Queima das Fitas e a Latada. De planejar uma trip para um país novo e sair procurando Couchsurfing e pensando na maneira mais econômica de fazer isso. Saudades de sair à noite e conhecer pessoas que podiam ser de qualquer parte do mundo. E da sangria, dos shots, do Cabido, do NL…
Uma das coisas mais difíceis de voltar, é que num intercâmbio temos a oportunidade de ver como o mundo é grande, como existem pessoas de todos os tipos, como cada dia pode ser muito diferente do outro, e, enfim, voltarmos para uma rotina bem menor do que tudo isso. Você está se expandindo e, bem, as rotinas em geral não permitem que continuemos expandindo todas nossas habilidades, anseios, etc etc. Agora estou muito feliz aqui. Muito feliz com a minha vida, vivendo o presente e planejando muitas coisas que me animam – incluindo viagens. Nesse momento, Portugal ocupa um espaço grande no coração, mas é algo calmo e sereno. Um dia voltarei pra lá – Ilha da Madeira, me espere! – e estou feliz com isso, e sem pressa. As coisas acontecem.
Portugal me ensinou muito. Morar sozinha fez com que eu aprendesse muita coisa. A vida lusitana me presenteou com amizades incríveis. E me deu memórias magníficas para a vida toda.
Para quem me pergunta com dúvidas se deve ir pra lá: aproveite, vá. Sem medo, as coisas se acertam. As coisas passam e temos que nos agarrar as oportunidades lindas que a vida dá. Tenho recebido vários comentários de pessoas dizendo que o blog está ajudando elas a planejar a viagem para Coimbra e isso me deixa muito, muito feliz! Espero em breve poder compartilhar mais ideias, experiências e paixões direto do lado de lá desse mar salgado que divide mundos tão diversos – e parecidos, ao mesmo tempo. Enquanto isso, vou escrevendo daqui, aproveitando para relembrar de tantos momentos mágicos!
Sem comentários
Stephanie ameei o post!
Minha irmã não teve uma experiencia muito boa em sua pós graduação em Lisboa, porém a universidade de Coimbra me parece um bom lugar para fazer minha graduação, tenho dupla cidadania.
Mas tem algo que me trava nesta decisão, emprego! O custo de vida é bem mais baixo pelas minhas pesquisas e pelo que pude ver aqui (sim estou lendo todos os posts), porém não tenho uma família que possa bancar meus estudos, existe alguma oportunidade de emprego? Mesmo sendo em restaurantes?
Planeje muuuuitas e muuuuitas viagens, não há melhor coisa do que isso =)
Continue escrevendo,
Obrigada
Giulia Bernardes.
Oi, Giulia! Na época que estava em Portugal via vários brasileiros trabalhando em bares e restaurantes, esse tipo de emprego acho que é relativamente fácil de conseguir. Porque em outras áreas profissionais está difícil até pros portugueses haha. Beijo!
que post maravilhoso, quase chorei! me identifico bastante, apesar de estar em um meio húngaro bem mais hostil!
essa volta … estarei partilhando essa vibe em breve 🙁
curta o agora sem pensar no futuro! o depois será lindo também, haverá muitas viagens e experiências lindas!
Stephaniee!! Eu adorei o seu posto como já de costume!!
Eu adorei o seu relato sobre o pós – intercâmbio!! Eu confesso que sofri bastante com a volta… hehehe antes de ir para o intercâmbio eu já estava bastante chateada com algumas coisas da minha vida daqui, então ter ido mudou tudo como vc relata no post… lembranças boas para vida toda. Realmente até ano passado eu me pegava sonhando com Coimbra… sério.. eu já sonhei inúmeras vezes que estava em outro lugar, embora no sonho não fosse exatamente Coimbra ( não sei dizer onde), mas de alguma forma era Coimbra. O tempo passou e a gente precisa aceitar… passou, já foi. O que importa é que deixou tantas lembranças boas, tantas amizades feitas! E mais que tudo, viagens.. melhor forma de se conhecer e enriquecer. Olho pra trás com saudade, mas hoje penso que foi maravilhoso, então melhor pensar assim.. foi maravilhoso, agora é tentar fazer o presente algo maravilhoso. hehehee A vida continua, as coisas vão acontecendo.. e infelizmente aqui ( falo no meu cotidiano mesmo) conhecer novas pessoas e fazer amizades é mais difícil, devido a rotina.. ) Pra isso só fazendo outras atividades… outro curso…
Enfim, o que eu queria dizer é que adorei o seu post!! Eu concordo com tudo o que você escreveu… Foi bom.. maravilhoso.. mas já não é algo que afeta tanto.. é uma saudade mais branda.. que dá aquele calorzinho no coração e que faz brotar um sorriso espontâneo ao olhar pra trás e recordar de tudo incrível que aconteceu por lá!
O tempo passa… a vida prossegue.. mas as boas recordações permanecem… e isso é o que nos faz olhar pra trás e dizer que valeu a pena mesmo!
bjokas!! Até a próxima semana! 🙂
querida, que belas suas palavras! até daqui a pouco!