Quando morava em Coimbra, tive a oportunidade de escrever algumas reportagens para o jornal universitário da Universidade de Coimbra, A Cabra. Foi uma linda experiência, a melhor que tive no curso de jornalismo em Portugal. Uma das minhas matérias, escrita em parceria com o ucraniano Ian Ezerin, foi sobre a falta de serviços de transporte público à noite em Coimbra. Isso prejudicava bastante os rolês da galera que morava longe do centro! haha. Não sei se a situação está melhor agora, de qualquer maneira, compartilho a matéria aqui. Estudantes de Coimbra, me contem como está a situação agora!
Falta de serviço noturnos afeta cidadãos
Os SMTUC asseguram, através de um sistema de autocarros, o transporte urbano na cidade e arredores desde as cinco e meia da manhã e a meia-noite. Contudo, quem deseje mobilizar-se na cidade a partir dessa hora tem de obrigatoriamente utilizar o serviço de táxis. Por Ian Ezerin e Stephanie D’Ornelas
Constantemente abordada nas redes sociais e no meio estudantil está a possibilidade de Coimbra usufruir de uma rede de transportes noturnos. À noite e de madrugada, a Baixa e a zona da Praça da República são os locais mais procurados por estudantes e a população jovem de Coimbra. Nem todos têm sorte de viver nas habitações do centro da cidade. O estudante do quinto ano da Faculdade de Farmácia, residente em Celas, comenta que “era importante haver mais autocarros à noite, não só para quem sai à noite, mas também para quem vai estudar para associação ou para as cantinas”.
A ausência de transporte público no período noturno leva a consequências na vida da cidade e dos cidadãos. A estudante residente em Santa Clara, Carina Rodrigues, que utiliza os transportes públicos todos os dias, esclarece que “saio à noite principalmente para Praça da República, mas como não há o autocarro de regresso a casa, tenho de esperar pela disponibilidade de conhecidos que me dão boleia”.
Os residentes de áreas centrais são também atingidos com esta situação. O estudante Adriano Mourão, residente na Praça do Comércio, sempre que vai a algum lugar distante e tem que regressar à noite, depende de transportes alternativos. “Eu já tive problemas para voltar do Fórum, tenho sempre que voltar de táxi”, conta. O estudante tem também dificuldades em movimentar-se no período de aulas: “tenho que apanhar o autocarro uma hora antes, deviam existir mais linhas para o Polo II”.
A procura não é significativa
O administrador dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), Manuel Correia de Oliveira, esclarece que a ideia de introduzir os horários suplementares no período da uma até às cinco de manhã não é uma realidade provável. “Isso é impraticável, está fora de questão por várias razões”, afirma o responsável. Na experiência de Manuel Correia de Oliveira, a procura não é significativa e comprova isso com uma viagem que fez num dos últimos autocarros do dia, em que a certa altura apenas se encontrava o próprio, o motorista e um utente.
A possibilidade de uma rede noturna nunca foi, no entanto, tentada em Coimbra. A exceção dá-se apenas em ocasiões especiais, como na semana da Queima das Fitas (QF). Nos últimos quatro anos foram disponibilizados transportes gratuitos para apoiar as noites do Parque: “na perspetiva dos estudantes utilizarem o menos possível os automóveis”, conta o administrador. De acordo com Manuel Correia de Oliveira, durante os quatro anos em que foi disponibilizado o transporte noturno na QF só num foi conseguido apoio para isso, mas praticamente simbólico. O administrador conta que o valor dispensado para possibilitar os autocarros é alto. “Representa um bocado de dinheiro, foi um valor significativo”, afirma.
Por ter condições diferentes das empresas semelhantes que existem no Porto e em Lisboa, os SMTUC estão mais limitados no seu desenvolvimento, uma vez que os transportes urbanos são propriedade da Câmara Municipal de Coimbra, e só há o apoio financeiro por parte do município.
Falta de financiamento
“É muito difícil sobreviver e por isso é que não temos a possibilidade de uma renovação da frota que gostaríamos de fazer”, esclarece Manuel Correia de Oliveira. O administrador constata que entre 2002 e 2010 a frota foi renovada, “isso era possível porque era a única verba do Estado, através do Plano de Investimentos da Administração Central, distribuído por intermédio do Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT), explica Manuel Correia de Oliveira. Há três anos que os SMTUC não recebem este valor, facto que implica um maior esforço às viaturas que estão em serviço. A necessidade de renovação da frota é essencial, visto que “ainda sete dos autocarros em funcionamento são de 1984”, sustenta o administrador.
A última aquisição dos SMTUC com a verba do IMTT foi um ‘trolley’, comprado em 2009. Foi possível pagar metade do valor do meio de transporte com a verba recebida do instituto, na altura. A perspetiva era comprar um ‘trolley’ por ano com a verba municipal, mas isso não se concretizou. “A ideia era ter em cinco ou seis anos, umas seis viaturas dessas a funcionar”, expõe Manuel Correia de Oliveira. O ‘trolley’ custou 475 mil euros, mais de 280 por cento do valor de um autocarro comum, que custa cerca de 170 mil euros.
O administrador acredita que a compra dos ‘trolleys’ vale a pena porque a manutenção desses veículos é muito mais reduzida. “Ainda temos um ou dois motores de ‘trolleys’ encaixotados, nunca foram substituídos e estão a funcionar”, explica. Além disso, em termos ambientais, os ‘trolleys’ não produzem tanta poluição nem tanto barulho como os restantes autocarros.
A recente renovação do sistema dos passes levou a benefícios consequentes no funcionamento do serviço. Permite, em tempo real, saber a procura em cada uma das linhas. Nos sistemas antigos os dados sobre o número de viagens era uma aproximação da procura, mas com o novo sistema cada passe utilizado permite saber o número de viagens utilizadas. Além disso, o administrador dos SMTUC explica que o desconforto relacionado no processo de carregamento dos passes: “em 2013 será possivelmente carregar o passe pela internet”.
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